20 de abril

Terça-feira, 20 de abril.
Um dia como outro qualquer.
Exceto pelo fato da mala no canto da sala, arrumada no silêncio da madrugada.

Chovia muito. Lá fora e dentro de mim.
Eu era uma tempestade.

Andava com passos apressados, sem olhar pra trás pra não correr o risco de querer voltar, deixava a chuva me molhar pra disfarçar minha maquiagem borrada pelo choro.
Não sabia o que estava fazendo.
Nunca tive certezas na minha vida, nunca cultivei conhecimentos exatos por achar que a vida muda o tempo todo, e os fatos também.

A vida, sempre generosa, deixou que eu escolhesse.
Eu, ingrata e inocente, escolhi o caminho mais difícil só pra provar minha capacidade.
Escolhi ir embora. Desistir.
E pra quem diz que desistir  é mais fácil, acredite, não é.
A dor de não saber como seria se eu tivesse ficado e lutado, a dor de saber que não há caminho de volta e, sobretudo, o peso da minha consciência por conta da minha covardia. Por ter juntado meus trapinhos e meu orgulho ferido e fugido daquele caos, na calada da noite, sem me despedir, sem avisar.
Isso tudo é pior do que qualquer coisa que já desejaram à mim, é como se eu sobrevivesse apenas, perambulando num mundo do qual deixei de fazer parte quando me afastei daquela vidinha chata e sem futuro.
Você? Dormia, certamente.
Nem imaginava meus planos e mesmo que te contassem, não acreditaria.
Tão confiante, tão crente de mim e minha remissão, enquanto eu, tão egoísta, partia.
Se tivesse me despedido, depois de secar tuas lágrimas e engolir as minhas, prometeria falsamente, voltar. Voltar pra te buscar e finalmente, vivermos nossos sonhos.
Então preferi assim. Sem mentiras, lágrimas e despedidas.
E quando você soubesse que fui embora sem te levar, mais uma vez, me odiaria por me amar tanto a ponto de acreditar em mim e esperar minha volta, outra vez.
Naquele dia, eu andava com tanta certeza, com postura de quem sabia o que era certo mesmo sentindo o coração acelerado, pedindo por socorro, pedindo pra eu voltar.
Continuei.  Não voltei e não vou voltar.

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