Vem!

Se vier, venha pra ficar!
Ocupa teu lugar, ocupa meu corpo.
Me faz tua, se faz único.
Me faz morrer em teus braços, me ressuscita e me deixa viver do teu amor.
Me devora, me possua, me desvenda.
Me despe e me veste com teu corpo.
Me tira pra dançar. Me tira o ar.
Vem!
Vem pra ficar, pra me amar.
Me faz sonhar, suar, delirar.
Me usa, me abusa, me encanta.
Vem, fica e me habita!

Tudo

Aos poucos, com o passar dos anos, nós conseguimos enxergar, finalmente, do que somos feitos.
Por muito tempo, acreditei que fosse inteira tristeza, toda dor.
Já falei pro mundo inteiro ouvir que em mim só tinha amor.
Até meu excesso de vírgulas foi algo que acreditei me definir.
As palavras então, também tiveram a sua fase.
Não que eu seja volúvel, só tinha dificuldade de me definir.
A cada hora, algo me faltava.
Sentir essas faltas me corroía por dentro.
Eu não entendia. Mesmo. Era impossível saber o que eu precisava.
Hoje eu sei. Eu queria tudo. Quero tudo.
Tudo que me couber, que me for de direito.
Tudo que eu conquistar com os meus próprios esforços.
Não admito que me tirem nada. Nem mesmo os meus sorrisos.
Não admito que me façam acreditar em algo e simplesmente não cumpram.
Eu brigo por isso. Brigo por tudo.
Porque sou feita de vontades inteiras.
Sou feita de pedaços inteiros.
Migalhas à quem for feito de migalhas; à mim, não.
À mim, tudo.
Nem mesmo o meu silêncio cala as minhas necessidades. Tem outras formas de expressar.
É só querer ver. Nem todo mundo quer.
Hoje eu sei do que sou feita.
Sou feita dos meus sonhos, dos meus amores, dos meus inimigos, das minhas dores, da tristeza absurda que me acompanha, sou feita dos meus pesadelos, dos medos, das vontades.
Sou inteira.
Feita de tudo.
Feita de mim mesma, literal e figurativamente.
 
 

Te deixo ir

Com lágrimas nos olhos e coração em pedaços; um abraço apertado.
Um silêncio necessário.
Te beijo como beijei no dia que cedi aos teus encantos e à tua conversa ensaiada.
Viajo na memória e sinto saudade dos planos que fizemos enquanto recuperávamos o fôlego perdido de tanto nos amar. Planos nunca realizados.
Te deixo ir, mas vai agora e leva junto toda essa esperança, tão falsa, tão mágica, que você plantou em mim.
Devolve meus beijos, meus sonhos, a vontade de viver que você tirou de mim quando decidiu ir.
Pode ir, eu ficarei bem.
Serão 3 ou 4 noites sem dormir, algumas semanas até eu reaprender a caminhar sozinha, mais algum tempo até me acostumar com a ideia de que o nosso ‘para sempre’ durou bem menos do que eu supus que duraria.
Acho que a vida tem dessas coisas, desses encontros e desencontros, essa coisa das pessoas entrarem na vida da gente e quererem sair no dia seguinte, como se nada tivesse acontecido.
Não que eu esteja preparada, nem quero me preparar pra algo tão absurdo, mas é como se eu esperasse.
É por isso que te deixo ir, sem delongas, sem pormenores, sem querer saber o que te leva de mim. 
Te deixo ir. Pra que alguém possa vir. E ficar.  

20 de abril

Terça-feira, 20 de abril.
Um dia como outro qualquer.
Exceto pelo fato da mala no canto da sala, arrumada no silêncio da madrugada.

Chovia muito. Lá fora e dentro de mim.
Eu era uma tempestade.

Andava com passos apressados, sem olhar pra trás pra não correr o risco de querer voltar, deixava a chuva me molhar pra disfarçar minha maquiagem borrada pelo choro.
Não sabia o que estava fazendo.
Nunca tive certezas na minha vida, nunca cultivei conhecimentos exatos por achar que a vida muda o tempo todo, e os fatos também.

A vida, sempre generosa, deixou que eu escolhesse.
Eu, ingrata e inocente, escolhi o caminho mais difícil só pra provar minha capacidade.
Escolhi ir embora. Desistir.
E pra quem diz que desistir  é mais fácil, acredite, não é.
A dor de não saber como seria se eu tivesse ficado e lutado, a dor de saber que não há caminho de volta e, sobretudo, o peso da minha consciência por conta da minha covardia. Por ter juntado meus trapinhos e meu orgulho ferido e fugido daquele caos, na calada da noite, sem me despedir, sem avisar.
Isso tudo é pior do que qualquer coisa que já desejaram à mim, é como se eu sobrevivesse apenas, perambulando num mundo do qual deixei de fazer parte quando me afastei daquela vidinha chata e sem futuro.
Você? Dormia, certamente.
Nem imaginava meus planos e mesmo que te contassem, não acreditaria.
Tão confiante, tão crente de mim e minha remissão, enquanto eu, tão egoísta, partia.
Se tivesse me despedido, depois de secar tuas lágrimas e engolir as minhas, prometeria falsamente, voltar. Voltar pra te buscar e finalmente, vivermos nossos sonhos.
Então preferi assim. Sem mentiras, lágrimas e despedidas.
E quando você soubesse que fui embora sem te levar, mais uma vez, me odiaria por me amar tanto a ponto de acreditar em mim e esperar minha volta, outra vez.
Naquele dia, eu andava com tanta certeza, com postura de quem sabia o que era certo mesmo sentindo o coração acelerado, pedindo por socorro, pedindo pra eu voltar.
Continuei.  Não voltei e não vou voltar.

Um cara qualquer


Não me entenda mal, só entenda que não é por mal.
Sei que é machismo dizer que problema não é você, sou eu, mas é a verdade.
Acho lindo todo esse amor e os planos que fez pra nós, mas não posso aceitar, tampouco retribuir e a responsabilidade disso ou, até mesmo culpa, é minha.
Eu gosto do estrago, do caos, gosto dos amores impossíveis.
A promessa de dias felizes sendo só uma promessa.
Preciso de uma desculpa esfarrapada pra ser mal humorado e manter o gosto de cigarro e vodca na boca e a melhor desculpa do mundo é sofrer de amor.
Se eu aceitar todo esse teu amor, perco a licença pra perambular pelas madrugadas em busca de outras coxas, não poderei mais lamentar a vida, terei que ser feliz e posar pra fotos abraçados a uma moça que gosta de sertanejo.
Não, o problema não é o teu gosto musical, nem precisa chorar assim, é que esse negócio de felicidade não me atrai, gosto mesmo da solidão e dessa constante busca pela mulher da minha vida.
Eu acredito no amor, principalmente no teu por mim, só não acredito que um cara como eu seja digno de tanto bem querer.
Eu olhava pra outras mulheres quando estava de mãos dadas contigo porque andar de mãos dadas não é um contrato; pra mim, essa coisa de unir as mãos pra andar é coisa de gente perdida e carente que precisa de um apoio senão cai.
Não é ser insensível, só acho que é assim que funciona.
Eu até tenho um pouco de carente e perdido, mas hoje prefiro continuar assim, sem saber o que fazer , então não me olha com essa cara de menina abandonada que dá vontade de te por no colo.
Quero encontrar, um dia, quem sabe, alguém que me faça querer sair de mim e morar em outro corpo, sei que esse alguém já existe e anda por aí me procurando, se eu namorar contigo vou perder esse outro alguém e é por causa da minha mania de ficar sempre pensando no depois que não posso aceitar esse teu amor.
Agora, minha pequena, você já pode me odiar, me chamar de cafajeste e correr pros braços das tuas amigas, só enxuga essa lágrimas aí, nem isso eu mereço.
Sou um cara qualquer que quer amar mas não sabe como, então dispenso toda forma desse sentimento.
Continuo chorando dores que não senti e procurando alguém que me ofereça um amor bandido, daqueles que faz feliz e faz sofrer.